terça-feira, 24 de maio de 2011

O Angelus mais carismático do Beato João Paulo II


Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. Agradeço ao Senhor, que me concede encontrar-me novamente convosco aqui, a partir deste meu habitual lugar de trabalho, após algumas semanas de hospitalização.
E quero aproveitar esta circunstância para manifestar novamente a minha gratidão a quantos nos dias transactos estiveram junto de mim com cuidado constante: os médicos, os professores, os enfermeiros, as freiras e todo o pessoal do Policlínico Agostino Gemelli e do Vaticano. O meu grato pensamento vai também para as muitas pessoas que me fizeram chegar de muitas maneiras os seus testemunhos de solidariedade de Roma, de Itália e de todos os Continentes, assegurando-me a lembrança constante na oração. A todos e cada um, obrigado de coração.
2. Hoje ocorre a solenidade litúrgica da Santíssima Trindade, que propõe à nossa contemplação o mistério de Deus, como Cristo no-lo revelou. Grande mistério, que supera a nossa mente, mas que fala profundamente ao nosso coração, porque na sua essência nada mais é do que a explicitação daquela densa expressão de São João: Deus é amor!
Precisamente por ser amor, Deus não é um solitário, e mesmo permanecendo um e único na sua natureza, vive na recíproca inabitação de três pessoas divinas. O amor, de facto,  é essencialmente dom de si. Sendo amor infinito, Deus é Pai que se doa totalmente na geração do Filho, e com Ele estabelece um diálogo eterno de amor no Espírito Santo, vínculo pessoal da sua unidade.
Que grande mistério! Gosto de assinalá-lo especialmente às famílias, neste ano dedicado especialmente a elas. Na Trindade, de facto, pode-se vislumbrar o modelo originário da família humana. Como escrevi na carta às famílias, o “Nós” divino constitui o modelo eterno desse específico “nós” humano constituído por um homem e uma mulher que reciprocamente se doam numa comunhão inndissolúvel e aberta à vida (cfr. João Paulo II, Carta às famílias, n. 6).
3. Caros Irmãos e Irmãs! No próximo Domingo, por ocasião da festa do “Corpus Christi”, a Igreja italiana estará espiritualmente reunida em Siena, para a conclusão do Congresso Eucarístico Nacional que se realiza durante esta semana. É uma fase muito importante da grande oração da Itália e pela Itália. Na Eucaristia, de facto, a Igreja reconhece a fonte e o cume da sua vida. Nela revive o Sacrifício redentor de Cristo e se alimenta do seu corpo. Dela aprende aquele espírito de serviço e de comunhão, que é necessário para ser sacramento de unidade dos homens com Deus e com os irmãos (cfr. Lumen Gentium, 1). Desejo que os católicos italianos vivam profundamente este momento, encontrando aí inspiração e força para a sua vida eclesial e o seu testemunho social. A Virgem Santa ajude cada um a preparar-se dignamente para este singular e providencial acontecimento eclesial.
4. E precisamente a Maria queremos por fim, com especial afecto, volver o olhar, chegados já ao final do mês mariano, durante o qual elevámos ao seu coração maternal os desejos, as invocações, as lágrimas de toda a humanidade. Mãe misericordiosa, queira Maria atender as súplicas da comunidade cristã. Abençoe sobretudo os jovens e as famílias e obtenha para todos, especialmente para as Nações infelizmente ainda em guerra, o dom inestimável da concórdia e da paz.
E eu quero, por Maria, exprimir hoje a minha gratidão por este dom do sofrimento novamente ligado ao mês mariano de Maio. Quero agradecer por este dom. Percebi que é um dom necessário. O Papa tinha de estar no Policlínico Gemelli, tinha de estar ausente desta janela quatro semanas, quatro Domingos, tinha de sofrer: como teve de sofrer há treze anos, assim também neste ano.
Meditei, voltei a pensar de novo em tudo isto durante a minha estadia no hospital. E encontrei novamente ao meu lado a grande figura do Cardeal Wyszynski, Primaz da Polónia (cujo 13. º aniversário da morte ocorreu ontem). Ele, no início do meu Pontificado, disse-me: "Se o Senhor te chamou, tu deves introduzir a Igreja no Terceiro Milénio". Ele próprio introduziu a Igreja na Polónia no segundo milénio cristão.
Assim me disse o Cardeal Wyszynski. E percebi que devo introduzir a Igreja de Cristo neste Terceiro Milénio com a oração, com diversas iniciativas, mas vi que não chega: era preciso introduzi-la com o sofrimento, com o atentado de há treze anos e com este novo sacrifício. Porquê agora, porquê neste ano, porquê neste Ano da Família? Precisamente porque a família é ameaçada, a família é agredida. O Papa tem de ser agredido, o Papa tem de sofrer, para que cada família e o mundo vejam que há um Evangelho, diria, superior: o Evangelho do sofrimento, com o qual se deve preparar o futuro, o terceiro milénio das famílias, de  cada família e de todas as famílias.
Queria acrescentar estes pensamentos no meu primeiro encontro convosco, caros romanos e peregrinos, no final deste mês mariano, porque este dom do sofrimento devo-o à Virgem Santíssimo, e dou-lhe graças. Percebo que era importante ter este argumento diante dos poderosos do mundo. Devo encontrar de novo estes poderosos do mundo e devo falar. Com que argumentos? Resta-me este argumento do sofrimento. E quero dizer-lhes: entendei-o, entendei porque o Papa esteve de novo no hospital, de novo no sofrimento, entendei-o, repensai-o!
Caríssimos, obrigado pela vossa atenção, obrigado por esta vossa comunidade de oração, na qual podemos novamente recitar o “Angelus Domini”.

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